O céu estava escuro como as cinzas, o vento soprava como se
quisesse despir as casas, e as chuvas debatia-se como pedregulhos.
Perguntava-me eu se o 2012 tinha chegado atrasado, se havia
alguma razão para o tempo estar tão obscuro e tão violento com ele próprio. E
no meio das minhas perguntas veio então o grande problema, muito sabia eu que
iria ficar tao fria como o temporal lá de fora. Ela, de nome não identificado,
disse, afirmou, contestou, teimou, e eu fiquei no meu quieto espaço como se
aquelas palavras de mágoa nada me tivessem afectado. Como se cada pedregulho
que ela mandava não me acertasse devido a uma barreira que me protegia. Seria a
minha força interna? Seria a raiva que não deixava aquelas palavras saírem em
modo choro, seria o ódio que comia cada palavra antes de elas chegarem até mim?
Ou seria simplesmente a preguiça da cabeça que não lhe apetecia interpretar
aquilo?
O que é certo, é que de cada palavra daquelas, parecia o
vento a soprar com mais força do que antes. O que é certo, é que de cada
pedregulho, parecia que a chuva teimava em se lançar com mais força. O que é
certo é que nada do que supostamente me iria afetar, afetou … Ficou tudo em
modo obscuro, e eu fiz como o vento, mesmo zangada e magoada, sai dali fria com
uma pequena diferença, eu ia em passos pequenos sem que ninguém me
ouvisse.
Quando me deparei com o meu quarto, quando reparei que o
vento tinha acalmado, pouco das minhas lágrimas começaram a escorrer, mas em
pequena quantidade, pois a frieza já à muito que gelou todo o meu coração.
Olhei pela janela, já as cinzas tinham desaparecido, já as nuvens carregadas
tinham ido embora, já havia o reconforto duns pequenos raios de luz que se
avistavam. Essa pequena diferença no tempo, fez uma grande diferença em mim,
embora o vento continuasse a soprar com a maior força que podia existir, embora
o meu coraçao ainda sentisse aquele frio, o meu desejo foi maior e vim traduzir
o que sentia e via em palavras. Palavras que começavam a soltar o meu desejo. E
com tudo o que vi, com tudo o que senti deu-se este pequeno mas grande texto de
semelhança. O que aprendi ou reparei foi simples… Não importa a quantos dias vamos,
não importa os Invernos que passem ou os Verões que venham, vai existir sempre
um vento gelado a soprar quando menos esperamos. Da mesma maneira que se
assemelha a mim, não importa o que de bom possa acontecer, se são os momentos
maus que nos gelam todo o coração.
